O dia nasceu soalheiro, mas anunciava-se chuva que acabou por desabar
pela hora do almoço.
Não é o melhor sítio para se comer “pica.no-chão", mas a
curiosidade de rever o Convento de Souto Moura, levou-nos até lá. Caldo verde e
canja de galinha sem novidade. O “pica-no-chão” trazia a carne e o arroz e
pouco mais, já que o tempero não tinha o requinte que qualquer tasco da zona
nos ofereceria. O vinho era da zona, um “rosé” verde das encostas da Abadia. O
serviço foi simpático sem arroubos escolásticos, de acordo com a simplicidade
que por ali sempre se aplicou, já que nas origens estava a ordem de Cister que
apareceu para tirar os penachos à ordem de Cluny que traía a humildade de Bento
de Núrsia, que desde o século VI, ensinava ao mundo as virtudes cardinais, como
as queria Jesus, o Cristo.
De capelinha a grande Convento, ou Mosteiro, porque ali se praticava a
clausura e a vida contemplativa como o pregavam os priscilianistas, o edifício
foi uma sucessão de obras em cima de obras. Por isso Souto Moura respeitou o
que estava construído, como ele próprio refere: «Construí um edifício novo com paredes antigas(…).Quando comecei
percebi, juntamente com os arqueólogos, que o mosteiro era feito de
sobreposições, comprovando que o património acaba sempre por ser feito por
atentados ao património… A partir daí foi-me mais fácil materializar a
ideia:fazer renascer o mosteiro como uma estrutura do século XX, no respeito
pela História(…)».